terça-feira, 1 de outubro de 2013

SK8

    

 QUE TAL UMA VOLTA DE SKATE?


  Quero compartilhar agora, a história do skate na minha vida. Foram diversas experiências vividas em cima dele, momentos bons e tensos, muita amizade feita. Rock and roll, garotas, superação, trauma, treta, dor e prazer. Atravessei fronteira, conheci cidades. Escuridão e a Luz conheci através desse esporte. Compartilharei minha história, meu testemunho, minha dor e a minha alegria.

Oiapoque 1996
       Nasci na cidade do Oiapoque-AP, localizada ao extremo norte do Brasil e do Amapá ao mesmo tempo. População com pouco mais de 20 mil habitantes, um município culturalmente muito forte. Um lugar em que se encontram pessoas de várias partes desse Brasil e fora do País. Uma terra querida, e por minha alma idolatrada, cortejada pelos 18 anos da minha vida, vivido nesse lugar.

Amapá - Oiapoque

       Meu primeiro contato com o skate ou algo similar, foi ainda criança. Quando eu observava pela janela de casa, a garotada do bairro descendo a ladeira com uns carrinhos caseiros. Devia ter em torno de 10 a 13 anos. Ficava admirado vendo aquela diversão, mas por ser mais novo, não tinha intimidade com a moçada mais velha. Tempo depois, via o skate na sua perfeição, o via através de meus primos, pelos quais tive contato com o skate, e passei a me envolver, me aprofundar intensamente nesse universo. Com 14 anos adquiri meu 1º primeiro skate, lembro até hoje, 21 reais rsrs. Um skate com shape quase sem nose e tail, e dois rolamentos de reserva, rodinhas detonadas rsrs, porém era o meu primeiro skate, primeiros empurrões, manuais e ollies.

Tail manual Oiapoque 2003


       Lembro que demorei três meses pra começar a andar legal, e mandar minha primeira manobra mais radical e dificílima até então. Um fakie varial flip, a sensação na hora do acerto foi indescritível, pois não sabia tirar o flip, somente o varial, e do nada com muito esforço mandar um fakie varial flip foi algo difícil de acreditar, me recordo de estarem presente meus dois primos, que foram minhas influenciais, outro skatista fera conhecido como Piu-piu, e outros skatistas também estavam na hora, mas não consigo relembrar. Acertar uma manobra daquela não era apenas um sinal de evolução, mais também de aceitação na tribo skate, afinal com os poser em alta, todas as tribos possuíam e ainda possuem suas condutas de autodefesa do bando, e no meu tempo não era diferente.


Oiapoque 2005

           O estilo visual foi uma característica que ganhou muita força no skate. É um jeito mais chamativo que o outro. Porém, quando se trata do começo no skate, sempre nos apresentamos da maneira mais cafona. Porque num primeiro momento o que nos interessa é aprender logo aquelas manobras, com o passar do tempo, do desenvolvimento no skate é que outras vaidades nascem ou não rsrsrs. Nunca tivemos, em tempos passados, o que temos hoje. Uma miscigenação de estilos no mundo do carrinho skate, tem de tudo. Eu usava um tênis de futebol de quadra, short e uma camisa, cabelo cortado pela minha mãe, meu pesadelo rsrsrs. Com tempo, fui usando um tênis próprio pra skate, calças jeans, camisas descoladas, boné, moicano, Black Power, tranças e por aí afora.


Oiapoque 2006, 1 dia após festa em casa


Oiapoque 2006 após festa da PJ em casa

Oiapoque 7/09/2004


        Ao mesmo tempo, em que estava criando a minha identidade em torno do skate, aos 14 anos, eu usei meu primeiro baseado e conheci os seus efeitos. De fato, a primeira reação foi eufórica, frenética. Andava de skate com mais gás e vigor. Passei um pouco mais de um ano preso nesse vicio; eu detestava cigarros e não curtia muito beber, meu ponto fraco era mesmo a maconha. Usava com a galera antes, durante e depois da sessão de skate, usava nas baladas, por algumas vezes usei antes de entrar em sala de aula. Não precisávamos de uma ocasião para fumar, bastava alguém ter para ser usado. Nas idas e vindas de skate, nos ajuntamentos pro baseado, conheci pessoas que pararam e ainda usam drogas. Muitas delas se encontram bem empregadas hoje. Percebo com a maturidade que possuo agora, que drogas e skate não possuem nenhuma ligação, e tão menos drogas e esportes. Fui influenciado assim como muitos foram e ainda serão pelo meio que frequentam, pelo grupo que tem entre muitas funções sociais, te proteger, e isso acontece explícito ou implicitamente. Um skatista nunca será um drogado, muito embora exista, skatistas que optam por usar drogas e drogados querendo andar de skate. Mas nunca uma ação leva a outra, tudo não passa de opções e maturidade para enfrentar os preconceitos tanto do grupo quanto da sociedade. Andar de Skate é só mais um fruto da engenhosidade humana sobre essa terra, no começo, criada para se entreter e passar o tempo, hoje encarada como profissão, que tem por trás das 4 rodinhas um universo de profissionais usados para promover o esporte.

Oiapoque, muito louco rsrsrs

        Outro episódio com o skate ao meu lado, foi a minha fuga para o exterior, com 14 anos ainda. Eu e mais duas pessoas, os quais irei proteger a identidade, nos preparamos para atravessar a fronteira do Brasil para a capital da Guiana Francesa de skate. Compramos comida, um uísque e o famoso baseado e partimos rumo à Guiana Francesa. Nossa intenção era chegar à capital, andar muito no Skate Park para depois encontrar a casa de meu tio, onde ficaríamos alojados. Empurramos muito pela BR da Guiana, conseguimos duas caronas que nos levou direto para capital, chegando lá foi aquela calorosa recepção de skatistas brasileiros com balada noturna, álcool e drogas. No final dessa loucura, minha família ficou muito decepcionada, colocando a minha vida em risco e ignorando tudo o que aprendiz. Hoje me arrependo é claro disso tudo, mas o que está feito está feito, se eu pudesse voltar e fazer tudo de diferente, com certeza eu voltaria e mudaria tudo. No fim de tudo, uma semana depois eu fui trazido por policiais amigos da família, que passavam as férias naquele país. Por incrível que pareça, não fui repreendido da forma que imaginaria que fosse, eles agiram de forma cautelosa, talvez por medo de achar que eu queria mesmo fugir de casa, não revidaram com a violência. Mas o que eu queria mesmo era só curti a emoção de ir e depois voltar, não queria fugir.


Cayena - Guiana Francesa, o  único registro da fuga rsrsrs


Oiapoque 7/09/2003, pelotão dos esportes radicais


        Aos 15 anos, conseguir largar as drogas. Voltar novamente para a igreja católica, me envolvi com o grupo de jovens e com a comunidade. Mas semanas antes disso acontecer, eu tinha experimentado o ápice da droga, nunca tinha ficado chapado e alucinado na minha adolescência. Um amigo skatista da capital tinha acabado de chegar da fronteira do país vizinho, e dizendo trazer consigo uma droga nova e queria usar comigo e mais dois amigos, aceitamos numa boa, não havia ocasião pra se chapar. Depois de bolado um cubano, fumamos. Em instante, o efeito começou a bater, eu praticamente pirei, surtei, tive alucinações e uma premonição, sair do meu próprio corpo, sensações de perseguições e de que iria morrer ao mesmo tempo. Fiquei com síndrome do pânico por mais de uma semana, não ficava mais das 19 horas da noite nas ruas, queria o mais rápido possível chegar em casa antes da paranoia chegar, pra quem chegava 2 da manhã em casa só andando de skate pela cidade, isso foi um inferno. Tive que superar sozinho essa barra, pois os únicos que sabiam da minha paranoia eram os amigos que mais tarde tive que abri mãos de suas companhias e influencias para alcançar novamente minha estabilidade emocional e psicológica. Sem dúvida a melhor escolha que fiz, foi voltar para igreja católica uma semana depois, só assim, aos poucos fui recuperando a estabilidade, fazer uma amizade mais sadia e sair de vez das drogas. Foi difícil, mas entrei sozinho e com apoio de Deus sai também sozinho, minha família nunca souberam desse acontecimento na minha vida até 2010, afastei do grupo de skate aos poucos, saia de perto deles na hora do baseado e renunciava a todos os convites para fumar em grupo ou em particular com algum dito amigo, foi barra dura essa fase, aprendi muito no skate com eles, já vivenciara até aquele momento muitas histórias, no entanto foi a melhor coisa a fazer.

Oiapoque, Igreja, Jufé  e sem drogas


        O skate fez parte da minha juventude, do meu Ensino Médio todo, da nova caminhada na igreja e dos congressos. De certa forma era a minha vida, conheci pessoas em cima dele, conheci muitas garotas por sua presença, namorei algumas delas. Cai pouco, pois meu estilo era mais técnico do que atirado nos obstáculos, porém nas vezes que cai me machuquei pra valer, torções, pernas feridas, quedas de cabeça e desmaio, tudo isso passei pela vontade de querer sempre evoluir. Posso dizer sem vaidade alguma que, o que aprendi foi fruto da minha determinação e algumas orientações de amigos e leitura das revistas que todo mês comprava. Por momentos eu era o único skatista na pequena cidade de Oiapoque, admirado por muitos e odiado por uma pequena parcela de aculturado da cidade. No entanto, eu fui perdendo alguns dos meus melhores amigos, no decorrer dos anos, eles foram saindo para estudar e trabalhar em outros lugares do Brasil. Foi uma fase difícil, pois muito deles eram e ainda são queridos, uns de infâncias, da escola e do skate. Foi nesse momento que mais me refugie na igreja e nos amigos que lá fiz, não era de fato convertido, nem entendia muito bem a seriedade de se ter uma vida de compromisso com Jesus, mas foi uma fase ótima que não abriria mão, era tudo o que Deus tinha, diante da minha resistência e certa rebeldia ainda, para começar a me regenerar, trazer de volta para o caminho que há muito tempo eu tinha me distanciado.

Teresina - Piauí

Teresina 2010



        Ano de 2007 foi a minha saída da cidade de Oiapoque para um novo começo, uma nova história me aguardava. Deixei no Oiapoque 18 anos de muita estrada, sorrisos, lágrimas, decepções e conquistas. Ganhei amigos, e perdi momentâneo e permanentemente alguns deles, para a violência, drogas e para o skate, pois me afastei dos amigos da primeira infância para andar com os ditos cujos descolados. Agora estava indo para Teresina, era o que eu mais queria até então, por toda a dor que não aguentava mais no coração, precisava parti. Cheguei em Teresina em setembro de 2007, fiquei decepcionado ao encontrar as ruas do meu bairro, era um desilusão para qualquer estriteiro (skatistas de rua). Em janeiro de 2008, encontrei numa rampa de skate um dos caras que teve muita influencia na minha vida com o passar do  anos em Teresina, era um skatista cristão, que falava de Jesus de uma forma nunca ouvido antes. Era um cristão evangélico que andava de skate e ao mesmo tempo tinha uma integridade cristã, o que era novidade pra mim, afinal de onde vim, não existiam evangélicos radicais ao pé da letra. O cara era tatuador, skatista e cristão ao mesmo tempo, isso me cativou a prestar atenção em seu testemunho e na forma que pregava Jesus,a partir de então, conheci seu local de trabalho, sua esposa, sua casa e sua igreja. E fui cabalmente arrebatado por aquela atmosfera, me rendendo ao evangelho e poder de Jesus Cristo no Espírito Santo. Minha visão mudou, minha conduta também, coisas aconteceram, cosias desenrolaram, uma nova jornada começara. Conheci pessoas, lugares, me diverti pra valer, um novo caráter começou a ser lapidado, e ele também estava presente lá, o sk8, ia comigo pra cima e pra baixo. Nas viagens a férias sempre levo, e ainda continuo a conhecer pessoas, histórias e a viver aventuras uma hora ou outra.


Zé e Debora os evangelizadores rsrs


        Hoje com 24 anos, ando bem menos do que a minha juventude, até em função do tempo, pois curso o 3º ano de Direito na Universidade do Estado do Piauí. Mas sempre quando dar eu ando, só ou com a nova garotada. Esse post não é um culto ao skate, apenas o relato da história que passei com ele. Não sei como seria sem o skate, se chegaria onde estou. Só sei que aqui estou. Com tudo citado acima e outras coisas que não foram relatadas. Penso que Deus soube o momento exato de entrar em ação, fazendo uso das minhas próprias escolhas para revelar seu Amor, juntando o útil ao agradável, arrebatou o meu coração, e consolidou ainda mais o meu temor a Ele. Não temo a repercussão negativa desse pequeno testemunho, pois acredito fielmente que a genuína conversão não teme nem por um segundo.


Macapá - AP 2013


        O skate hoje não é mais a minha vida como afirmava antes, não vivo para o skate, o skate é apenas uma opção na terra, como muitas outras, para passar o tempo, se entreter com os amigos ou a família. Não existe esporte fácil ou difícil, todos apresentam o mesmo grau de dificuldade até você aprender a dominá-lo, por isso o garoto ou a garota não é e nunca será mais ou menos tola por optar por determinado esporte, seja ele radical ou não.  Por hora é só, vivi muitas coisas, mas isso é apenas um breve testemunho de como foi, não quero estender mais do que já está ficando. Muito obrigado por ler a até o final, MOVE BODY e lembre-se que: Jesus é o único Caminho, a Verdade e a Vida que vale a pena Trilhar, Conhecer e viver.


Oiapoque 2012